segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Polícia já identificou 25 grupos de skinheads em São Paulo

extraído do g1.com.br/fantástico

Mãe de jovem esfaqueado diz que filho não andava armado: “Ele achou no movimento punk uma forma de se manifestar”, justifica.

“Ele não foi o primeiro a morrer nem vai ser o último. O resultado disso vai ser a guerra”, diz o rapaz de 30 anos que não quer se identificar. Ele tem boas razões para isso.

Ele estava no meio do conflito que semana passada transformou uma rua de São Paulo em campo de batalha: a guerra entre gangues neonazistas e grupos contrários ao movimento. “A gente está correndo um risco permanente de ser agredido, de ser atacado. Eles perderam a vergonha, eu acho”, completou o rapaz.


O amigo dele, Johni Raoni Galanciak, de 25 anos, levou cerca de 20 facadas nas costas e no peito e morreu a caminho do hospital no sábado passado (3). Fábio dos Santos Medeiros, de 21, foi atingido na cabeça e continua internado em estado grave. Os dois jovens estavam em trincheiras opostas de um combate que vem crescendo também nas redes sociais da internet.

De um lado, estão os punks e os skinheads que são contrários à intolerância. Do outro, os skinheads que defendem o nazismo. É comum que os integrantes mudem de um grupo para outro ou troquem completamente de lado. Segundo a polícia, Guilherme Oliveira, preso acusado de esfaquear o punk Johni Raoni, também já foi punk e era amigo da vítima, mas hoje ele é um skinhead neonazista.

As tatuagens mostram claramente a mudança. A tinta mais fraca, já antiga, marcou a palavra punk. Nas novas marcas estão símbolos nazistas. Em uma imagem exclusiva, um jovem de 19 anos, conhecido como Treze, chega à delegacia com a mãe. Depois de prestar depoimento e negar a autoria do crime, ele foi preso temporariamente. Oliveira foi reconhecido por testemunhas. Se condenado, pode pegar de 15 a 30 anos de prisão por homicídio qualificado.

A polícia também já identificou o agressor da outra vítima. A prisão será pedida na próxima semana. Um parete de Johni que também não quer se identificar, diz que os punks foram surpreendidos por uma emboscada. “Não estamos falando de delinquentes juvenis. Como Romeu e Julieta, brigou a turma de baixo contra a turma de cima. Nós estamos falando de um segmento ideológico da população que prega o neonazismo”.

Durante dois anos, o estudante David Vega, de 22 anos, fez parte de um grupo radical: o movimento skinhead nacionalista. Ele abandonou o grupo e escreveu um livro em que conta o que viu e viveu. “Quando você está aliado a uma ideologia radical, os seus ânimos vão lá em cima.

Você enxerga o mundo pela verdade que você julga que ninguém consegue enxergar”, lembra o estudante David Vega, que conta como saiu do movimento: “Eu já não aguentava mais. Eu estava cansado de tudo isso. De sair na rua e não ter a tranquilidade de pegar um metrô e sentar sem ter de ficar preocupado. Eu queria paz”.

O movimento skinhead nasceu entre jovens brancos e negros da classe operária britânica no fim dos anos 1960. Eram identificados pela cabeça raspada e pelo tipo de música que ouviam. Foi só no fim dos anos 1970 que a política e as questões raciais surgiram e provocaram rachas e subdivisões. No Brasil, o movimento apareceu em São Paulo, no início dos anos 1980.

Hoje, a polícia do estado já identifica 25 grupos diferentes de skinheads. Nem todos defendem o nazismo. Os White Powers são os mais radicais. Defendem a raça branca e são contra judeus, negros, nordestinos e homossexuais. Os Carecas são nacionalistas, anarquistas e contra comunistas e gays.

Já os Antifascistas são contra o preconceito e contra o nazismo. Existe ainda uma linha de skinheads tradicionais, que combatem o preconceito e são desconectados da política. Os punks são anarquistas, contra qualquer tipo de autoridade e também repudiam o preconceito.

“Não adianta a gente achar que tem um lado bom e um lado ruim. As pessoas, quando se envolvem nesse tipo de gangue, estão em risco”, diz a delegada Margarete Barreto.
Para a delegada, especialista neste tipo de crime, o comportamento dos jovens pode dar dicas aos pais sobre o envolvimento com gangues radicais.

“O tipo de literatura que eles leem, o tipo de amigo que eles têm, as conversas que eles mantêm na internet, as tatuagens que eles ostentam, as roupas. Existem regras para entrar neste grupo. Então, ele se afasta da família porque muitas coisas ele não pode dizer para ela”, lembra Margarete Barreto.

A mãe do jovem que morreu esfaqueado diz que o filho não andava armado. “Ele achou no movimento punk uma forma de se manifestar”, justifica a professora Patricia Conceição. “Tinha muito medo. Ele andava com jaquetas, com emblemas antinazismo. Então, isso era uma provocação muito grande. Eles não perdoam”.


Em uma das jaquetas de Johni, uma frase se destacava ao lado de símbolos contra o nazismo: “Em uma guerra não existem ganhadores ou perdedores, somente milhares de mortos sem nenhum propósito".

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