sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo. Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram. Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir. Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir. Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam. Já tive crises de riso quando não podia. Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva. Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar. Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros. Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz. Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali". Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria. Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim. Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!!. Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre." (Clarisse Lispector)

domingo, 25 de setembro de 2016

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Sujeito apaixonado esse Drummond.

Amar

 Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?

        Amar e esquecer?

        Amar e malamar

        Amar, desamar e amar

        Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

        Que pode, pergunto, o ser amoroso,

        Sozinho, em rotação universal,

        se não rodar também, e amar?

        Amar o que o mar trás a praia,

        O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha

        é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

        Amar solenemente as palmas do deserto,

        o que é entrega ou adoração expectante,

        e amor inóspito, o áspero

        Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,

        e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

        Este é o nosso destino:

        amor sem conta, distribuído pelas coisas

        pérfidas ou nulas,

        doação ilimitada a uma completa ingratidão,

        e na concha vazia do amor a procura medrosa,

        paciente, de mais e mais amor

        Amar a nossa mesma falta de amor,

        e na secura nossa, amar a água implícita,

        e o beijo tácito e a sede infinita.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016



 MARIA, VÁ COM AS OUTRAS
(Autor desconhecido)

Maria,
Quando nada for possível de ser mudado e a pré- história nos parecer, enfim, triunfar
Não se sinta como uma folha ao vento, ao
contrário, lute, esbraveje, desvie, coletive-se e lembre-se da opressão que não quer cessar Mas, Maria, vá com as outras!

Entenda a história, olhe para trás, clame por rosa luxemburgo
Levante bandeiras vermelhas
Deixe-as flamejar Defenda um projeto popular Mas, Maria, vá com as outras!

Não se deixe sucumbir, subsumir, oprimir Troque o tanque da cozinha pelos tanques de guerra
Transforme a vida, conjugue verbos no infinitivo:
revolucionar, emancipar, comunar
Erga o arco da promessa de Louise Michel
Mas, por favor, Maria, vá com as outras!

Aprenda, conheça e não esqueça
Das mulheres que fizeram sua história de hoje
Lembre-se de Frida kahlo, Aurora Furtado, e
Helenira Resende
Organize-se e milite em associações feministas e socialistas como Alexandra kollontai
Escreva como Clara Zetkin
E se prepare para estar no olho do furacão
Mas, lembre-se, Maria, vá com as outras!

E quando for necessário pegar em armas Não se furte de seus momentos de indecisão, dúvida, mas nunca de covardia
Grite contra todas as formas de opressão e exploração,
Esteja nas primeiras fileiras da revolução
Emancipe-se, autonomize-se,
Mas, com clamor, Maria, vá com as outras!

Mesmo quando a luta arrefecer
E mulheres e homens sucumbirem
Saiba que a existência determina a consciência
E que a voragem dos acontecimentos nos exigem respostas rápidas e coerentes
Mas, Maria, vá com as outras!

Abandone sua vida predicativa
Esse trabalho doméstico que oprime, estrangula, degrada e a reduz a apêndice dos homens
Construa um novo caminho e apesar das curvas e
contratempos
Pinte novas quimeras

Reconheça seu papel nesta sociedade desigual
Junte-se a classe trabalhadora
E deixe-a perceber, que é em você e em todas nós, que se encontra a parte mais combativa e abnegada da luta pelo socialismo
Mas, Maria, não desacredite, Vá com as outras!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Miséria brasileira

Levantamento comparativo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, sob coordenação do professor Nelson Marconi, revela que, no Tribunal de Justiça de São Paulo, alguns desembargadores receberam, entre janeiro e junho de 2016, ganho mensal líquido de R$ 100 mil. Em Minas Gerais, foram identificados ganhos maiores, próximos a R$ 200 mil.
Em média, um desembargador mineiro recebe salário mensal líquido de R$ 56 mil – quase R$ 20 mil acima do teto fixado pela Constituição para o funcionalismo.
Já em São Paulo, um desembargador recebe salário líquido de R$ 52 mil por mês.
Na Inglaterra e nos Estados Unidos, países com renda per capita maior e custo de vida superior, um juiz ganha R$ 29 mil e um desembargador, R$ 43 mil.
Aliás,no Brasil, magistrados, operadores da  Justiça, são os  que menos cumprem a lei.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Por que as pessoas gritam?
Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
- Gritamos porque perdemos a calma...
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?
- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça.
E o mestre volta a perguntar:
– Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
Então ele esclareceu: – Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?
O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem.
É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Por fim, o pensador conclui, dizendo: “Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.”

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 23 de julho de 2016

VENDE-SE TUDO
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
Texto de Martha Medeiros

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Dia do amigo, 20 de julho

“(...) solidão foi a única coisa que eu não senti, depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.” – Cem dias entre Céu e Mar

terça-feira, 19 de julho de 2016

Não sei você
Não sei você, mas eu leio Gabito Nunes, Pablo Neruda, Martha Medeiros, Paulo Leminski, Mia Couto, cuido da casa, trabalho em mil projetos ao mesmo tempo, escrevo meus direitos e desejos em cadernos para lembrar que de ilusão também se vive. Canto sem melodia e degusto a esperança de ninguém me fazer interrogatórios.
Inscrevo-me, dando uma importância danada nos pormenores dos relacionamentos. Faço figa para a sorte não me abandonar e vivo entre o extremo da loucura que me permite sonhar e a realidade que ajuda realizar.
Não sei você, mas eu nunca sei para onde estou indo e mesmo assim insisto no caminho. Perco-me nos espaços. Tenho medo de altura.
Não sei você, mas eu acordo de bom humor, tomo café bem devagar, uso de uma riqueza exagerada de detalhes sem nenhuma importância para contar um fato simples, faço várias coisas ao mesmo tempo e consigo dar conta pelo menos da metade.
De você eu ainda não sei, mas eu tenho juízo. Não sou adepta ao acaso. Tenho sonhos absurdos e sinceramente nesse momento não tenho certeza se dentro de mim há uma criança curiosa ou um adulto insatisfeito.
Não sei sobre você, mas as minhas teorias são todas fajutas. Nem sempre tenho tanta paciência (venho exercitando), nem sou tranquila e serena o quanto pareço. As vezes sou chuva mansa e outras vezes tempestades. Tenho o meu impróprio lado B.
Não sei você, mas eu curto bossa nova de Caymmi e Vinícius (que agora já não é tão nova) a MPB de Caetano, Chico, Elis, as invenções da internet e tenho como melhor companheiro alguns livros na cabeceira da cama, com páginas dobradas, algumas marcações e vários suspiros.
Não sei você, mas choro em dramas cinematográficos, sou adepta a uma ginástica no exato momento em que meu velho e bom jeans fica apertado, (isso não passa de tristezas no espelho às segundas-feiras), esqueço-me de molhar as plantas, tenho preguiça de ir ao supermercado e adoro uma feira aos domingos.
Não sei você, mas eu tenho medo de escuro e muito mais de morrer sem ter feito tudo que eu desejo, encarno várias facetas sem lamentos, atrapalho-me com nomes, não sei fazer rimas e o restante eu sempre deixo para a próxima sexta-feira.
Não sei você, mas eu não me entendo e acho que isso não faz mal algum. Transcrevo apenas algumas interpretações das fases que vivi e o restante deixo desaguar. No mais eu tenho uma profunda devoção a tudo aquilo que me faz bem e nessa eu acredito em anjos, energia abençoada da natureza e no sagrado de todo humano.
Não sei bem sobre você, mas eu ainda não fechei minhas edições sobre o amor. E esse é o sentimento pelo qual tenho maior admiração, mesmo sabendo que ele demora em aparecer por aqui.
Não sei você, mas eu ainda acredito na lua, no sol nas estrelas e acho fenomenal a gente sonhar sem saber onde vai chegar.
Não sei você, mas eu faço de conta que a lua é dos enamorados. Que a vida não é um oceano para lamentações. Que o amor acontece a qualquer horinha e coração nunca está pronto.
Não sei sobre você, mas eu invento, me esforço, faço apelos e guardo tudo na memória, faço promessas para que nunca morra a pulsação no corpo que nos leva a sonhar. Não sei você, mas eu encontro dentro de mim, um repertório novinho de coisas para viver.
Não sei você, mas eu acho que no final tudo vai acabar bem. E se o final é próximo ou distante isso é para outra pessoa, porque eu sou apenas aprendiz de ilusões.                                                                                                Texto transcrito da página de Lu Freitas (facebook)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

No novo tempo, apesar dos castigos
 Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
 Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
 No novo tempo, apesar dos perigos
 Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
 Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
 Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
 Seja sempre um caminho que se deixa de herança
 No novo tempo, apesar dos castigos
 De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
 Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
 No novo tempo, apesar dos perigos
 De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
 Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
 No novo tempo, apesar dos castigos
 Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
 Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
 No novo tempo, apesar dos perigos
 A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça

 IVAN LINS

domingo, 19 de junho de 2016

Freud disse que são duas as fomes que moram no corpo. A primeira fome é a fome de conhecer o mundo em que vivemos. Queremos conhecer o mundo para sobreviver. Se não tivéssemos conhecimento do mundo à nossa volta, saltaríamos pelas janelas dos edifícios, ignorando a força da gravidade, e poríamos a mão no fogo, por não saber que o fogo queima.
A segunda fome é a fome do prazer. Tudo o que vive busca o prazer. O melhor exemplo dessa fome é o desejo do prazer sexual. Temos fome de sexo porque é gostoso. Se não fosse gostoso, ninguém o procuraria e, como consequência, a raça humana acabaria. O desejo do prazer seduz.
Gostaria de poder ter tido uma conversinha com ele sobre as fomes, porque eu acredito que há uma terceira: a fome de alegria.
A fome de alegria é diferente. Primeiro, ela não precisa de um objeto. Por vezes, basta uma memória. Fico alegre só de pensar num momento de felicidade que já passou. A fome de alegria é insaciável..."

Rubem Alves

sábado, 18 de junho de 2016

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A Arte de Ser Avó

"Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu... É como dizem os ingleses, um ato de Deus". Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, o filho do filho, mais que filho mesmo...
Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que você esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações, todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores com paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.
Bracinhos de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade, longe de ser um estranho, é um filho seu que é devolvido.
E o espanto é que todos lhe reconhecem o direito de o amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: "Vo!", seu coração estala de felicidade, como pão no forno!

Rachel de Queiroz

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Recebi e preciso compartilhar!!!


"Entenda uma coisa:
Não existe mulher que "dá" no primeiro encontro
Existe mulher que faz sexo quando está com vontade.
Ela não te "deu"
Ela nunca te pertenceu
Então não venha com essa de "ela deu pra mim"
Porque na verdade, ela não foi sua.
Ela não conta primeiro, segundo ou terceiro encontro
Ela valoriza os momentos
Ela valoriza as conversas
Os sorrisos
Os olhares
Ela valoriza aquilo que desperta vontade
Aquilo que desperta tesão em viver.
Se ela fez SEXO com você
É porque ela quis.
Não pense que ela faz sexo com todos
Ou pense se quiser
Até porque isso não é da sua conta.
Você não "comeu" ela
Ela ainda está inteira
Ainda ri de coisas bobas na TV
Ainda lê um livro antes de dormir
Ainda sai com suas amigas no sábado a noite
E almoça na casa dos pais no domingo.
Você não "comeu" ela
Porque gente não se come
Se sente.
Ela não saiu por aí gritando para todos
O quanto a transa de vocês foi ruim
Ou o quanto você foi grosso com ela
Ela não precisa dividir isso com ninguém
Então porque você precisa?
Pra se sentir mais "macho" ?
Pra se sentir mais "homem"?
Não cara
Ela não é metade do que você pensa
Ela é tão extraordinária
Que nem cabe dentro dos seus pensamentos.
Ela não te ligou
E ela não estava esperando você ligar
Ela não precisa da sua aprovação
Ela não precisa saber se foi bom pra você
Porque se tiver sido bom para ela
Ela vai fazer acontecer de novo.
Não, ela não estava bêbada
Nem drogada
Ela fez porque quis
Porque tava afim.
Quando ela se arrumou naquela noite
Ela já sabia que seria pra enlouquecer
Ou enlouquecer alguém
E pode ter certeza que você não a enlouqueceu.
Você não ganhou ela na sua conversa fiada
Ela foi porque tava afim
Porque ela te escolheu.
Não saia por aí dizendo que você a ganhou
E que você ganha a hora que quiser.
Ela não te viu como um pedaço de carne
Ela não enxerga ninguém assim
Ela gosta de conexões
Nem que seja só por uma noite
Ela gosta de se sentir ligada a alma de alguém
De sentir o calor
De olhar nos olhos
De sentir prazer físico e emocional
E se ela tiver te achado vazio demais
Não vai rolar de novo.
Você pode rezar
Implorar
Mandar flores
Ela é decidida
Tem personalidade forte.
E no dia em que ela se casar
Vai ser com um cara de muita sorte
Porque de todas as conexões
Aquela terá sido a mais forte
Ele terá sido a alma que ela escolheu
E os dois serão eternamente enlouquecidos
Um pelo outro.
E você?
Ah cara,
Você vai continuar perdendo tempo
Falando por aí das mulheres que você acha que comeu
Vai continuar perdendo tempo achando que ganhou alguém
Você vai acabar sozinho
Porque nunca soube se conectar
Nunca soube sentir a alma de alguém."
-Helena Ferreira.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

É PRECISO IR EMBORA.

 Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim, que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo.

 Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua empregada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso. É preciso ir embora.

 Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversario, você estando aqui ou na Austrália.

 Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com “por isso tô te mandando esse áudio”; ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém. Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

 As desculpas e pré-ocupações sempre vão existir. Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas." (Antônia Macchi)

domingo, 29 de maio de 2016

DEIXEM-ME ENVELHECER
Deixem-me envelhecer sem compromissos e cobranças,
Sem a obrigação de parecer jovem e ser bonita para alguém,
Quero ao meu lado quem me entenda e me ame como eu sou,
Um amor para dividirmos tropeços desta nossa última jornada,
Quero envelhecer com dignidade, com sabedoria e esperança,
Amar minha vida, agradecer pelos dias que ainda me restam,
Eu não quero perder meu tempo precioso com aventuras,
Paixões perniciosas que nada acrescentam e nada valem.
Deixem-me envelhecer com sanidade e discernimento,
Com a certeza que cumpri meus deveres e minha missão,
Quero aproveitar essa paz merecida para descansar e refletir,
Ter amigos para compartilharmos experiências, conhecimentos,
Quero envelhecer sem temer as rugas e meus cabelos brancos,
Sem frustrações, terminar a etapa final desta minha existência,
Não quero me deixar levar por aparências e vaidades bobas,
Nem me envolver com relações que vão me fazer infeliz.
Deixem-me envelhecer, aceitar a velhice com suas mazelas,
Ter a certeza que minha luta não foi em vão: teve um sentido,
Quero envelhecer sem temer a morte e ter medo da despedida,
Acreditar que a velhice é o retorno de uma viagem, não é o fim,
Não quero ser um exemplo, quero dar um sentido ao meu viver,
Ter serenidade, um sono tranquilo e andar de cabeça erguida,
Fazer somente o que eu gosto, com a sensação de liberdade,
Quero saber envelhecer, ser uma velha consciente e feliz!!!

 Silvana Freygang
Quando fiquei viúva aos 37 anos...
Foi uma  desgraça...
Em cidade pequena, viúva nova,
Virei ameaça...

Saí da cidade, fui pra outro lugar.
Onde eu não tivesse identidade.
Mas vivi de tristezas... embaixo das camas,
embaixo das mesas...

Um dia cansei. Resolvi recomeçar.
Voltar a viver... voltei a trabalhar...
Resolvi também, que voltaria a amar...

Tolice que fiz... não fui feliz.
Em toda linda obra que construí...
só fiquei com escombros.
Da linha de partida até a de chegada...
abri feridas, ralei joelhos, só levei tombos.

Já aqui, em Maricá, faz pouco tempo...
resolvi modernizar...
Pra que envolvimento?
Todo mundo sai, dança, transa,
vou fazer como todo mundo e vou
dar por dar...

Hahahahahha...
Entrei com um buraco no corpo e saí com um abismo na alma.
Pensei,,,calma... é que você não está acostumada...
Não... não sei trepar em cima do muro,
nem no sentido literal nem no sentido não literal.
Não sou liberal.
Preciso de mais que um "pau".
Um amigo, um abrigo, um feliz final.

Não me reconheço na efemeridade,
mas não mais acredito na intensidade do infinito.
Não sei mais a minha prioridade...
não sei de verdade....

Tenho passo a passo
Seguido o meu caminho...
Não me reconheço em meus vôos...
Não tenho vontade de cruzar mais oceanos,
não quero projetos, nem planos...
quero a paz do meu ninho.

Eu, passarinho, sem casa,
sem asa, sozinho.

Andréa de Avellar.