sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo. Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram. Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir. Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir. Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam. Já tive crises de riso quando não podia. Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva. Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar. Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros. Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz. Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali". Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria. Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim. Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!!. Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre." (Clarisse Lispector)

domingo, 25 de setembro de 2016

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Sujeito apaixonado esse Drummond.

Amar

 Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?

        Amar e esquecer?

        Amar e malamar

        Amar, desamar e amar

        Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

        Que pode, pergunto, o ser amoroso,

        Sozinho, em rotação universal,

        se não rodar também, e amar?

        Amar o que o mar trás a praia,

        O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha

        é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

        Amar solenemente as palmas do deserto,

        o que é entrega ou adoração expectante,

        e amor inóspito, o áspero

        Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,

        e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

        Este é o nosso destino:

        amor sem conta, distribuído pelas coisas

        pérfidas ou nulas,

        doação ilimitada a uma completa ingratidão,

        e na concha vazia do amor a procura medrosa,

        paciente, de mais e mais amor

        Amar a nossa mesma falta de amor,

        e na secura nossa, amar a água implícita,

        e o beijo tácito e a sede infinita.