sábado, 23 de julho de 2016

VENDE-SE TUDO
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
Texto de Martha Medeiros

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Dia do amigo, 20 de julho

“(...) solidão foi a única coisa que eu não senti, depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.” – Cem dias entre Céu e Mar

terça-feira, 19 de julho de 2016

Não sei você
Não sei você, mas eu leio Gabito Nunes, Pablo Neruda, Martha Medeiros, Paulo Leminski, Mia Couto, cuido da casa, trabalho em mil projetos ao mesmo tempo, escrevo meus direitos e desejos em cadernos para lembrar que de ilusão também se vive. Canto sem melodia e degusto a esperança de ninguém me fazer interrogatórios.
Inscrevo-me, dando uma importância danada nos pormenores dos relacionamentos. Faço figa para a sorte não me abandonar e vivo entre o extremo da loucura que me permite sonhar e a realidade que ajuda realizar.
Não sei você, mas eu nunca sei para onde estou indo e mesmo assim insisto no caminho. Perco-me nos espaços. Tenho medo de altura.
Não sei você, mas eu acordo de bom humor, tomo café bem devagar, uso de uma riqueza exagerada de detalhes sem nenhuma importância para contar um fato simples, faço várias coisas ao mesmo tempo e consigo dar conta pelo menos da metade.
De você eu ainda não sei, mas eu tenho juízo. Não sou adepta ao acaso. Tenho sonhos absurdos e sinceramente nesse momento não tenho certeza se dentro de mim há uma criança curiosa ou um adulto insatisfeito.
Não sei sobre você, mas as minhas teorias são todas fajutas. Nem sempre tenho tanta paciência (venho exercitando), nem sou tranquila e serena o quanto pareço. As vezes sou chuva mansa e outras vezes tempestades. Tenho o meu impróprio lado B.
Não sei você, mas eu curto bossa nova de Caymmi e Vinícius (que agora já não é tão nova) a MPB de Caetano, Chico, Elis, as invenções da internet e tenho como melhor companheiro alguns livros na cabeceira da cama, com páginas dobradas, algumas marcações e vários suspiros.
Não sei você, mas choro em dramas cinematográficos, sou adepta a uma ginástica no exato momento em que meu velho e bom jeans fica apertado, (isso não passa de tristezas no espelho às segundas-feiras), esqueço-me de molhar as plantas, tenho preguiça de ir ao supermercado e adoro uma feira aos domingos.
Não sei você, mas eu tenho medo de escuro e muito mais de morrer sem ter feito tudo que eu desejo, encarno várias facetas sem lamentos, atrapalho-me com nomes, não sei fazer rimas e o restante eu sempre deixo para a próxima sexta-feira.
Não sei você, mas eu não me entendo e acho que isso não faz mal algum. Transcrevo apenas algumas interpretações das fases que vivi e o restante deixo desaguar. No mais eu tenho uma profunda devoção a tudo aquilo que me faz bem e nessa eu acredito em anjos, energia abençoada da natureza e no sagrado de todo humano.
Não sei bem sobre você, mas eu ainda não fechei minhas edições sobre o amor. E esse é o sentimento pelo qual tenho maior admiração, mesmo sabendo que ele demora em aparecer por aqui.
Não sei você, mas eu ainda acredito na lua, no sol nas estrelas e acho fenomenal a gente sonhar sem saber onde vai chegar.
Não sei você, mas eu faço de conta que a lua é dos enamorados. Que a vida não é um oceano para lamentações. Que o amor acontece a qualquer horinha e coração nunca está pronto.
Não sei sobre você, mas eu invento, me esforço, faço apelos e guardo tudo na memória, faço promessas para que nunca morra a pulsação no corpo que nos leva a sonhar. Não sei você, mas eu encontro dentro de mim, um repertório novinho de coisas para viver.
Não sei você, mas eu acho que no final tudo vai acabar bem. E se o final é próximo ou distante isso é para outra pessoa, porque eu sou apenas aprendiz de ilusões.                                                                                                Texto transcrito da página de Lu Freitas (facebook)